sábado, 3 de outubro de 2009

Idas


Tanto passa por nós. E passa mesmo. Uns vão sem avisar. Outros se despedem de mansinho, com pequenos gestos, com pequenos dias. Tem aqueles que declaram o sempre e na manhã seguinte, batem a porta, sem dó e nem piedade. Ainda há os que partem sem motivo, repentinamente, notamos que não estão mais lá. Os que expulsamos por boas razões ou os que não nos importamos com a presença, e muito menos com a ausência. Os que demoram a decidir, mas acabam por fazer as malas. Os que mentem, mas que, na verdade, não partem, porque nunca realmente chegaram. E há os que no prometem nunca partir, mas que acabam indo. Há os que não prometem, mas imaginamos que sim, o que não muda a consequência.

Mas de todos que passam, há o pior tipo. Aquele tipo que passa e leva muito de você, como se levasse um pedaço da sua existência, do seu passado, da sua história. Deixa muito, muito de memória. Nos faz entender o poder da palavra que só o brasileiro sente: saudade. Compreendemos o quão dolorosa é a dor de perder alguém, mas mais que alguém, perder o estímulo, a esperança, o brilho. O quão difícil pode ser tentar esquecer quando o destino parece sempre querer nos colocar cara a cara. Os piores, ou, geralmente, o pior, é aquele que leva um pedaço do nosso coração. E com este pedaço se vai tudo que um dia achávamos ser infinito. A porta permanece aberta, emperrada, não fecha de jeito nenhum. Já mandamos consertar, mas ela continua lá, torta. E desse jeito torto que levamos a vida, nas fronteiras do "não dá mais" e do "não consigo". Por mais que haja aqueles que partem, que partem o nosso coração também, nunca vamos aprender a dizer adeus àqueles que fazem a diferença nos nossos dias e no seu conjunto, na nossa vida.

A vida vai se tornando uma sucessão complexa de idas e vindas que às vezes não conseguimos virar totalmente a página. Deixamos dobrada aquela folha especial, pra podermos voltar quando quisermos, mesmo que as palavras perteçam ao passado e que na próxima página, o mocinho fuja com a donzela e... você? Ora, você é só a leitora. Trate de escrever o próprio livro, só assim aquela porta se fechará, para sempre.

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