domingo, 27 de setembro de 2009

Substituir


Todos nós tentamos fazer do outro uma cópia idêntica de nós mesmo. Não conheço ninguém que escape a essa regra. As diferenças fascinam, encantam, atraem. Mas são as semelhanças que tornam as coisas possíveis, compatíveis, duráveis. No início, o estranho nos provoca uma paixão imediata... Coisa linda eu adorar molho vermelho e ele, mesmo só gostando de molho branco, ceder ao meu gosto. Que lindo ele só assistir filme violento e eu, encantada pelos melodramas, assistir horas de tiroteios sem fim. Maravilhoso que ele adora dormir até tarde e mesmo assim vai comigo quando invento de caminhar pela manhã bem cedo.




O problema é que aquelas mesmas coisas que nos despertavam tanto interesse são as mesmas que passam a incomodar. Ele não atura mais molho vermelho, eu não aturo mais pancadaria e ele não acorda mais antes do meio-dia, nem com banda. Amobs cansam de ceder, e aquele fascínio cede espaço para uma frustração e aquela crença de impompatibilidade. É aí que um passa a tentar mudar o outro, impor seus gostos, suas preferências. Aí o relacionamento tem duas saídas: ou acaba, ou um vai se anulando aos pouquinhos até se tornar imagem e semelhança do outro. Em qualquer uma das duas, mais cedo ou mais tarde acaba acontecendo o encantamento por outro alguém, completamente diferente de nós, que ultrapasse seus limites, enfrente seus medos e faça o seu coração se sentir vivo outra vez. Feliz ou infelizmente, é o ciclo da vida.




Tentamos fazer com que as pessoas se tornem nossas imagens fiéis, para depois trocá-las por algo diferente e, consequentemente, mais emocionante. Sem ser previsível, monótono, igual. Deveríamos aprender a respeitar o outro, a entender que não podemos mudar ninguém, se muitas vezes nem a nós mesmos conseguimos mudar. Deveríamos respeitar, ententer, amar, aceitar. Mas somos egoístas, ainda estamos muito longe dessa aceitação. Por enquanto, só resta sugerir que, se for para tentar mudar alguém, que seja pra melhor. E que valha a pena.

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