E quem diria que eu iria mesmo afundar sozinha? Pois é. A história
acaba assim mesmo. Eu, agarrada no mastro, no meio de uma tempestade,
afundando, sozinha. E eu penso, ainda bem que sei nadar.
Eu fui paciente e
cautelosa, porém, decidi ceder. Eu baixei a guarda, tirei a armadura, entreguei
meus pensamentos e meu afeto com todo cuidado e com toda a ousadia necessária.
Cinco meses de bom dias, de confissões, de entrega, de uma amizade apaixonada.
Cinco longos meses que passaram rápido demais. Sinto ainda o gosto da ansiedade
na minha boca. O brilho nos meus olhos ao pensar em ti. Sinto minhas veias
latejando ao pensar em te encontrar. Sinto aquela emoção exacerbada e
estupidamente pura quando eu te vi pela primeira vez. Ou melhor, eu sentia.
Sentia-me incrivelmente abençoada e grata, todos os dias, por ter alguém que eu
queria dar todo o meu amor, do outro lado do mundo, pensando em mim. E depois, há
algumas horas. E depois, na minha frente. Poder te tocar e te abraçar foi uma
das melhores sensações da minha vida. Poder olhar nos teus olhos e dizer o
quanto eu esperei por aquele momento, foi mágico. E todo o tempo de espera, que
foi ótimo para mim, derreteu quando tu pegaste em minha mão com tamanha
delicadeza e carinho. Era uma energia simplesmente fantástica. Eu podia sentir
aquele amor em todas as células do meu corpo. E tu me perguntava, o quanto eu
te amava. E eu nunca soube responder completamente. Porque eu te amaria de todas
as formas e quantas vezes fosse necessário pra que tu acreditasse no meu amor.
E eu sei que tu o sentia. Era palpável como calor. Era um fluido transparente
que passava das minhas mãos para o teu peito nas tantas vezes que ficamos em
silêncio, deitados um ao lado do outro, de olhos fechados. Eu posso afirmar que
vivi um sonho de um sonho. E escrever sobre isso, torna o nosso sonho real e
imutável. Sabe, minha memória me prega peças. É a primeira vez que me lembro da
gente. Fiz um esforço muito grande para apagar as coisas boas que vivemos, para
não doer. E funcionou, por incrível que pareça. Mas decidi deixar no papel
algumas lembranças porque elas valem a pena por si só. São bonitas demais para
ficarem esquecidas. A nossa história daria um livro, na minha opinião. Estou
aqui de coração dilacerado escrevendo trechos. Mas há muito mais. Uma infinidade
de detalhes belíssimos escondidos nos minutos compartilhados contigo. A nossa
poesia de mãos dadas. Como a gente costumava dizer, “é muito amor”. Lembro
daquela maneira única que tu me beijavas: era um beijo com carinho e com um
sentimento enorme; um beijo com saudades prévias e tardias. Um beijo de
angústia, de posse, de medo. Um beijo de te quero para sempre. Eu sentia isso.
ISSO não foi fantasia. Porém, o meu beijo era de pura gratidão e esperança de
que a tua dor passasse. Que de alguma forma eu pudesse te curar com a minha
segurança e a minha generosidade. Eu queria arrancar as tuas dúvidas, queria
tirar o teu medo, queria cicatrizar as tuas feridas. Mas não dependia de mim. E
esse foi o meu erro. Eu acreditei demais em ti, por mim e por ti, de uma só
vez. E superestimei meu talento em ajudar as pessoas. De alguma maneira devo
ter te ajudado, talvez os frutos não tenham ficado maduros ainda para serem
colhidos. Talvez.
Estou anestesiada pela ausência das falas. Pelo celular desligado.
Pelo meu silêncio, pelo nosso silêncio. Estou atada nessa história e às vezes,
penso, foi real? Terá sido algo inventado de forma tão bela, sem falhas? Será que
me dediquei a apagar as imperfeições? Será que não vi as cicatrizes tão
aparentes? Será que eu não quis ver? Será que minhas expectativas tornaram as
coisas maravilhosamente especiais?
Hoje está tudo
diferente. Peguei minha parte de volta. Meu coração está inteiro. Meio colado,
mas inteiro novamente. Não acho justo deixar nenhuma parte de mim por aí. Não
acho justo comigo, que fique claro. E nessa segunda azul, já não imagino mais
segundas ao teu lado. Estou presa ao presente com pessoas que querem estar
nele. Não preciso de restos, de talvez, de possivelmentes.
Deixei-me levar
pelas palavras fáceis, pelos sonhos da tua cabeça inconstante. E eu gostei da
idéia. Mas não fui sincera comigo. Eu gosto muito do presente. Me
teletransportei pra um futuro de suposições e esqueci de olhar para o que
estava a minha volta. Nosso presente era muito importante para mim. Foi um dos
melhores presentes que eu já vivi. Mas me acostumei com a falta dos bom dias.
Com a falta das ligações. Me adaptei a minha nova vida sem ti. Acho que um dia
ainda vou acordar chorando, perguntando, por quê? Ou em alguma cena, em algum
filme que tenha muitas manhãs e muitos parques verdes, eu fique reflexiva e
nostálgica. Ainda não aconteceu. Não sei se é porque o único caminho para mim
agora é o de estar firme ou se é porque ainda não te coloquei no meu passado,
por mais que no presente, tu não estejas mais. Deveria existir um tempo entre
esses dois tempos. Um pretérito-presente ou presente-quase-pretérito. E como
conjugar os verbos nesse tempo? Eu te amei? Eu te amo? Ah! Eu teria te amado
para sempre.
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