quarta-feira, 2 de março de 2011

para as paredes 005

Eu me sinto muitas vezes perdida. E acho que não estou sozinha. Encaro as pessoas nas ruas como se todas estivessem em busca de algo, como eu passo os meus dias inteiros à procura dos itens que ainda faltam, dos móveis que não foram escolhidos, dos lugares onde não sei bem como chegar e muito menos como voltar. Mas não é quando me perco das ruas ou dos móveis ou das chaves da casa que eu me desespero, nem é nesse momento que me atrevo a olhar para os outros buscando neles a mesma apreensão que encontro em mim. Penso que não estou sozinha, tento me consolar acreditando que não estou sozinha quando me sinto perdida dentro de mim mesma, quando não encontro muito sentido nas coisas que eu faço nem nas experiências que eu vivo. Faço tudo em nome do amor, mas o amor sobrevive da dúvida e essas dúvidas algumas vezes não me deixam ficar em paz enquanto cato nos olhares estranhos o mesmo distanciamento que algumas vezes encontro quando me vejo no espelho. Mas essa dúvida me perde e me acha, me faz reencontrar as chaves na bolsa, o mapa da cidade, o caminho de casa, a mobília faltante. Essa dúvida aquece meu coração e me traz de volta para mim, cada uma das vezes em que me perco. É como uma mão invisível que consegue me resgatar de mim mesma, de cada um dos labirintos que o medo é capaz de criar. Essa dúvida, que me consome e me alimenta.

De todas as dúvidas que constroem meu amor, minha única certeza é a felicidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário