Eu e minha tela branca à frente. Puxa, faz tempo que não
falo como dizem os poetas, com o coração. E realmente não é pra ficar bonito. É
num mar de soluços que me encontro. Quem dera fosse de rir. Acredite, eu
costumava gostar da minha companhia. Eu costumava me deliciar em manhãs com meus
cafés múltiplos e cheirosos que se acumulavam em fileiras de xícaras coloridas
na minha escrivaninha branca, e o Sol ia beijando devagarinho meus papéis
enquanto eu fazia o que tinha que fazer, seja lá o que fosse. Puxa, eu gostava
mesmo de mim há uns anos atrás. Como era bom aproveitar uma música e planejar
simplesmente o que eu iria fazer no final de semana. Como era boa a vida
simples que eu levava. Há dois anos atrás, parece que nada ficou tão simples
assim mais.
Dizem que quando a gente se apaixona, a gente esquece da
gente. E o tempo não é mais como era antigamente. Ele muda, pra uns passa mais
rápido, pra outros simplesmente para. Eu não sei como foi comigo, mas sei que
com 1 mês parecia que nos conhecíamos há 10 e com 1 ano depois de tanta
confusão, sentia que tinham sido duas vidas terrenas. Esses dois anos já se
perderam na minha cabeça, a contagem ficou louca e minhas memórias meio que se
atravessam umas pelas outras, dançando tristemente pelo passado. Ora essa...
Tanta coisa boa vivida pra se sentir grata, e, sim, em momentos de paz eu me
sinto grata. Mas, bem, como eu controlo o tempo do restante da minha vida? Como
pensar nos próximos 10, 100, 1000 meses que eu (espero) viver. Como pode ser
tão doída a imagem de mim mesma sem ti? Será que isso é amor? Será que se sofre
por amor? Me disseram que o amor era uma coisa boa... E agora?
É engraçado e estúpido se apaixonar. É engraçado porque
lembro das minhas escolhas nada racionais e fico pensando no porquê de tudo
isso. Por que sentia a tamanha necessidade, parecida com a que sinto agora, de
ir atrás daquele objeto tão desejado? Por que nunca aceitei o que era tão
óbvio? Que não poderia dar certo. E isso sempre foi um fato, não adianta. E eu
sabia, no fundo, eu sabia. E por que insistia tanto? Eu simplesmente achava que
tudo era possível, que era passível de mudança e ressignificados. Eu acreditava
como uma criança que crê em Papai Noel. Com todo o meu amor, minha força e meu
otimismo, nunca me faltou coragem para arriscar. Eu queria me jogar. Queria
morrer de amor. Queria. E agora, as minhas cinzas me entristecem. Não há glória
em finais tristes. Ninguém me parabenizou ou bateu palmas. Não ganhei troféu ou
medalha. E nem uma carta, sequer. Na minha porta não bate ninguém e minha
companhia parece estar vivendo em um mundo sombrio. Falam-me de liberdade e ela
tem uma cara bem desafiadora para mim. Eu não tenho nada a perder e isso nunca
soou tão estranho...